CRÍTICA | 1917

Direção: Sam Mendes
Roteiro: Sam Mendes e Krysty Wilson-Cairns
Elenco: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Colin Firth, Andrew Scott, Benedict Cumberbatch, Richard Madden, entre outros
Origem: Reino Unido/EUA
Ano: 2019


A guerra é um tema muito aproveitado pelo cinema e gera curiosidade no público atento para o retrato do caos nos campos de batalha pela ótica de algum cineasta. Muitos dos melhores diretores já passaram pelo gênero, casos de Stanley Kubrick (Nascido Para Matar), Steven Spielberg (O Resgate do Soldado Ryan), Francis Ford Coppola (Apocalypse Now) e, até mais recentemente, Mel Gibson (Até o Último Homem) e Christopher Nolan (Dunkirk). Por mais que a temática esteja batida atualmente, alguns filmes ainda conseguem trazer propostas inovadoras. É o caso de 1917 (2019).

A história se passa no auge da Primeira Guerra Mundial, quando dois jovens soldados britânicos, Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman) recebem uma missão aparentemente impossível. Em uma corrida contra o tempo, eles precisam atravessar o território inimigo e entregar uma mensagem que pare um ataque que será mortal a milhares de soldados britânicos - entre eles o irmão de Blake.

Dirigido pelo premiado Sam Mendes (007: Operação Skyfall), a produção ganhou destaque especialmente por seus aspectos técnicos impressionantes. O cineasta propõe a experiência de que o filme se passe em uma única tomada contínua, em tempo real, com longos planos-sequência. Isso para acompanhar cada momento da jornada dos homens na zona de batalha e imergir o espectador.

Foto: Universal Pictures

Dentro de tal proposta, a direção de fotografia de Roger Deakins (Blade Runner 2049) é nada menos do que primorosa. Predominantemente gélida e fria, como a guerra, mas com momentos de cores mais fortes e quentes, como as explosões em tela. Do talento de Deaking ninguém dúvida, mas ainda assim é notável velo apresentando um resultado como esse, mantendo uma consistência cinematográfica ímpar em planos tão longos.

Para juntar tudo isso e fazer com que o 1917 pareça ser feito em uma única tomada, temos o trabalho fundamental de montagem de Lee Smith (Interestelar). É claro que, se você for um espectador experiente, é possível notar alguns momentos em que cortes foram realizados, mas, ainda assim, a produção impressiona pela escala e pela dificuldade de execução, mesmo que não seja pioneiro, já que filmes como Festim Diabólico (1948), Arca Russa (2002) e Birdman (2014) já apresentavam tal proposta.

O design de produção retrata de forma fiel e real o cenário de guerra, principalmente com as trincheiras recriadas de um modo que aproxima o espectador daquele local hostil. Já a trilha sonora composta por Thomas Newman (Beleza Americana) é operante, eleva o clima de tensão durante boa parte do longa, principalmente nos momentos de espetáculo visual, como quando vemos um dos soldados adentrando em uma cidade em ruínas sob a luz da noite.

É importante ressaltar que a escolha por um único plano serve à história e não soa como mero exibicionismo técnico. A opção dá urgência aos planos com a passagem de tempo e a difícil missão dos protagonistas. Em alguns momentos fica a impressão que um corte daria mais agilidade a narrativa, especialmente em cenas que um personagem não tem muito a fazer além de ser transportado de um local a outro, mas até nesses pequenos instantes fica evidenciada a solidão e angústia do soldado que corre contra o tempo. 

Foto: Universal Pictures

A escolha dos dois protagonistas foi um dos grandes acertos da produção. Dean-Charles Chapman (Game of Thrones) mostra o heroísmo e espírito de luta da juventude com seu personagem Blake, enquanto o Schofield interpretado por George MacKay (Capitão Fantástico) é um espelho para o público ao entregar uma performance cheia de nuances. Um homem inserido naquela realidade contra sua escolha, com medo da intensidade e horror da guerra, um personagem repleto de humanidade.

Diversos atores de peso são colocados em papéis secundários ao longo da jornada dos dois soldados, mas sem muito a entregar além de participações especiais. Uma escolha não tão boa, é bom dizer, já que nos breves momentos em que aparecem acabam roubando a atenção do espectador da história que está sendo contada.

1917 acaba sendo um filme sobre os horrores da guerra com uma desconstrução do fascínio clássico a ela, já que foge da glamourização do conflito a todo instante e traz a mensagem de devoção à vida. Sam Mendes entrega um filme tecnicamente impecável. Simples e eficaz em sua proposta. Uma fascinante experiência cinematográfica.


Ótimo

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