CRÍTICA | Encontros e Desencontros

Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Sofia Coppola
Elenco: Bill Murray, Scarlett Johansson, Akiko Takeshita, entre outros
Origem: EUA/Japão
Ano: 2003


Uma jovem mulher recém-casada. Um ator na crise da meia idade. Aparentemente, esses dois indivíduos não poderiam ser mais diferentes, mas na verdade eles compartilham muito em comum: o sentimento de solidão e não pertencimento. Em Encontros e Desencontros (Lost in Translation), de Sofia Coppola (As Virgens Suicidas), os protagonistas Bob Harris (Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson) se sentem deslocados em Tóquio, cidade cenário da trama, bem como em suas próprias trajetórias de vida. 

Lançado em 2003, o filme é o segundo trabalho autoral de Sofia, que já consolida o estilo que irá caracterizar sua filmografia: uma estética introspectiva e existencialista, que explora narrativas sobre pontos de vista femininos. O longa-metragem ainda foi indicado ao Oscar de melhor direção, o que a consagrou como um expoente do cinema norte-americano.

Bob é um famoso ator dos anos 70, que agora se vê obrigado a gravar comerciais e outras propagandas para ganhar dinheiro. Já Charlotte, recém-casada e graduada em Filosofia, acompanha o marido em seu trabalho como fotógrafo. Ambos não conseguem se adaptar ao fuso horário japonês e, mais do isso, vivem angustiados e deslocados com a vida. Fica claro que, apesar das aparentes diferenças, a dupla experimenta simultaneamente uma fase de contestação e dúvida quanto a própria identidade.

Foto: Universal Pictures

Os dois encontram companhia um no outro e buscam diversão na exótica noite oriental. Mas se engana quem pensa que estamos à frente de mais um típico roteiro de comédia romântica. Sofia é muito mais sutil e elegante do que isso. Encontros e Desencontros não é um romance comum, mas sim uma narrativa sobre um relacionamento entre duas pessoas que buscam, acima de tudo, compreensão. 

Bill Murray (Ilha dos Cachorros) e Scarlett Johansson (Vingadores: Ultimato), mergulhados em seus personagens, se mostram comprometidos em contar uma história honesta e verossímil. Aliás, é fácil relacionar a narrativa contada com a realidade dos relacionamentos humanos, bem como é impossível não relacionar sua influência em produções mais recentes, como Ela (2013), por exemplo, de Spike Jonze (Onde Vivem os Monstros). Curiosamente, Sofia e Jonze foram casados por quatro anos, tendo Encontros e Desencontros sido lançado no ano em que se divorciaram.

Também poderia citar a influência da obra de Sofia no recente História de um Casamento (2019), de Noah Baumbach (Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe). Não apenas pelo evidente protagonismo de Johansson, mas por ali abordar a perspectiva do homem e da mulher, o fim de uma relação e o sentimento de dor e confusão presente em todo o processo. 

Devo destacar ainda a belíssima cinematografia de Lance Acord (Adaptação). Tóquio é apenas um pano de fundo de uma história que poderia se passar em qualquer outra metrópole do mundo, mas seu trabalho em tela faz ressaltar todas as peculiaridades culturais e a grandiosidade da capital nipônica. Sem isso seria impossível nos sentirmos tão sozinhos quanto seus protagonistas em meio à multidão oriental. O que prova que Encontros e Desencontros de detalhes sobre a (aparente) simplicidade da vida.

Foto: Universal Pictures


Ótimo

Comentários