CRÍTICA | Os Oito Odiados

Direção: Quentin Tarantino
Roteiro: Quentin Tarantino
Elenco: Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Tim Roth, Michael Madsen, Bruce Dern, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2015


Quentin Tarantino (Era Uma Vez em... Hollywood) é um diretor que trabalha suas tramas e metalinguagens cinematográficas em inventivos roteiros, com colagens de referências populares, brincando com gêneros e subgêneros hollwyoodianos. Ao longo da carreira ele começou a abordar temas ainda mais relevantes, fazendo comentários sobre fatos históricos como o nazismo em Bastardos Inglórios (2009) e a escravidão Django Livre (2012). Em Os Oito Odiados (The Hateful Eight), seu oitavo longa-metragem, o cineasta faz um misterioso faroeste teatral ambientado em um Estados Unidos pós-guerra civil.

Na trama, durante uma severa nevasca, o carrasco John Ruth (Kurt Russell) transporta a prisioneira, e assassina, Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para trocar por dinheiro em Red Rock. No caminho, dão carona para o caçador de recompensas Marquis Warren (Samuel L. Jackson), ex-soldado sindical que virou caçador de recompensas, e o xerife Chris Mannix (Walton Goggins). Com a piora na neve, eles se refugiam no Armazém da Minnie (Dana Gourrier), onde quatro outros desconhecidos estão abrigados: Bob (Demian Bichir), Oswaldo Mobray (Tim Roth), Joe Gage (Michael Madsen) e Sanford Smithers (Bruce Dern). Aos poucos, cada um deles começa a revelar seus segredos, aumentando a tensão no confinamento.

Tarantino constrói um filme clássico de mistério, homenageando e se inspirando na rainha do crime Agatha Christie – principalmente no clássico E Não Sobrou Nenhum (antigamente com nome de O Caso dos Dez Negrinhos), de 1939, mas sem deixar de usar suas particularidades e resgatar diversas influências. Os Oito Odiados trabalha o mistério somado à atmosfera claustrofóbica, fazendo a tensão do filme crescer a cada instante. O clima de desconfiança instaurado lembra muito obras como O Enigma de Outro Mundo (1982) ou Alien, o Oitavo Passageiro (1979).

Foto: Imagem Filmes

Nesse cenário enervante, Tarantino aproveita para utilizar de suas maiores características, brincando com diálogos afrontosos, humor, narrativa recheada de reviravoltas, além da violência exacerbada. Ele apresenta comentários sociais sobre raça, violência e justiça, tudo provocado pelo contexto norte-americano pós-guerra civil. Isso não é novidade para o diretor, que de certa forma, opera Os Oito Odiados como um Cães de Aluguel (1992) ambientado no mundo de Django Livre.

A construção dos personagens é espetacular, já que cada um tem suas peculiaridades. Já o elenco estelar entrega performances de alto nível, que fazem jus ao roteiro, com destaque óbvio para Samuel L. Jackson (Jackie Brown), Kurt Russell (À Prova de Morte), Jennifer Jason Leigh (Aniquilação) e Walton Goggins (Homem-Formiga e a Vespa).

Tecnicamente a obra também é bela, graças também ao trabalho do cinematógrafo Robert Richardson (Kill Bill), recorrente colaborador de Tarantino. Eles decidiram rodar o filme em 70mm com lentes anamórficas, que poderiam proporcionar um espetáculo visual em planos abertos e locações amplas. Só que isso, surpreendentemente, não se concretiza. O cineasta opta em usar tal formato para ampliar a visão do espectador dentro do ambiente fechado e claustrofóbico do Armazém da Minnie, uma escolha inteligente quando se observa o resultado final. Trata-se, portanto, de um épico intimista, onde o diretor e roteirista pode se concentrar muito mais nos personagens do que na escala, soando quase como uma peça de teatro filmada.

Como a cereja do bolo, a trilha sonora é composta por Ennio Morricone (A Missão), o que é curioso, já que o cineasta não costuma utilizar composições originais em suas obras. O resultado é magnífico, e não atoa rendeu o Oscar ao genial compositor italiano.

Foto: Imagem Filmes

Possivelmente um dos filmes mais subestimados de Quentin Tarantino, Os Oito Odiados é certamente um dos trabalhos mais maduros de sua filmografia, já que utiliza de inúmeros recursos e características para realizar uma trama engenhosa e instigante, com grande elenco e que ainda rende excelentes e afiados comentários político-sociais. 

Ótimo

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