CRÍTICA | Princesa Mononoke

Direção: Hayao Miyazaki
Roteiro: Hayao Miyazaki
Elenco: Yôdi Matsuda, Yuriko Ishida, Yûko Tanaka, entre outros
Origem: Japão
Ano: 1997


O Studio Ghibli sempre se destacou por suas animações belíssimas e inovadoras visualmente, além dos roteiros bem elaborados com reflexões profundas sobre diversos temas da sociedade. Lançado em 1997, Princesa Mononoke (Mononoke-hime) foi a primeira obra do estúdio a alcançar um público maior ao propor uma aventura épica, já que os outros nove filmes lançados, até aquele momento, eram mais introspectivos, como Túmulo dos Vagalumes e Meu Amigo Totoro, ambos de 1988. Não por acaso é um dos mais aclamados do estúdio até hoje, apresentando uma temática atemporal.

A história segue o príncipe Ashitaka (Yôji Matsuda) em meio a uma jornada para encontrar a cura para seu braço contaminado por uma maldição imposta por um demônio que ele derrotara. Assim, ele acaba se deparando com uma guerra entre os deuses da floresta, com a força de San (Yuriko Ishida) - a Princesa Mononoke - e com Tatara, uma colônia de mineração, liderada pela Lady Eboshi (Yûko Tanaka).

“Todo mundo quer tudo. É assim que o mundo é.”

Foto: Studio Ghibli

Princesa Mononoke é uma fábula sobre o antropocentrismo – que coloca o homem como centro do universo e todas as demais espécies existem para servi-lo – e, consequentemente, o egoísmo humano em relação a natureza. O diretor Hayao Miyazaki (Porco Rosso: O Último Herói Romântico) quis propor uma discussão sobre a devastação ecológica provocada pelo avanço humano em meio a uma história épica de batalhas e conflitos ideológicos.

Trata-se de uma aventura épica recheada de ação que concentra sua história no embate ideológico entre três pontos de vista distintos – e que se chocam: San, criada como não-humana por lobos brancos, que se dedica à proteção dos animais e da natureza; Lady Eboshi, que representa o lado humano e está destruindo a natureza (animais e floresta) sem mensurar a consequência dos seus atos; e, por fim, temos Ashitaka, uma espécie de herói altruísta, que quer a conciliação entre ambos os lados e ideais diferentes por causa de um bem maior, como uma espécie de encarregado da justiça.

O interessante é que, apesar da clara crítica às ações da humanidade contra a natureza, Miyazaki consegue expor diferentes ideais e as nuances que os constroem. Tanto que Lady Eboshi nunca é retratada como a vilã da história, pelo contrário, ela salvou mulheres de trabalharem em bordéis e deu liberdade para elas dentro da colônia. E aqui temos uma importante característica da obra, a representação feminina.

Miyazaki não deixa de lado a misticidade tão presente em suas obras, representando-a com alegorias sobre a vida da natureza, como os espíritos da floresta e o coração (Deus protetor) da floresta. Ambos, inclusive, carregam no desfecho uma mensagem sobre as consequências das atitudes do ser humano, o que pode ser ainda mais perceptível ao fazer um paralelo com a sociedade atual. No final, Princesa Mononoke não apresenta uma visão pessimista ou otimista, mas realista. A destruição da natureza é uma realidade, então o filme conduz uma perspectiva para a reflexão.

Foto: Studio Ghibli

"A sede de possuir o céu e a terra é o que nos faz humanos."

Tecnicamente, o filme é impressionante e deslumbrante, feito à mão e utilizando a menor quantidade possível de computação gráfica, o que é notável nos detalhes e texturas de todos os personagens e cenários presentes. Na época, foi uma das animações mais caras produzidas pelo cinema animado japonês. Miyazaki contou sua história em escala épica, construída pela suas cenas de ação e aventura – inclusive não poupando momentos violentos – somadas com a trilha sonora imponente de Joe Hisaishi (O Serviço de Entregas da Kiki), que dá o tom que a produção necessita.

Em Princesa Mononoke, Miyazaki dá uma aula de amor à natureza e ensina que todos devemos repensar nossas atitudes individualistas. Sem dúvidas uma das mais belas e grandiosas fábulas que o cinema animado já proporcionou.

Excelente

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