CRÍTICA | Curtindo a Vida Adoidado

Direção: John Hughes
Roteiro: John Hughes
Elenco: Matthew Broderick, Alan Ruck, Mia Sara, Jeffrey Jones, Jennifer Gray, Charlie Sheen, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1986


A carreira de John Hughes (Gatinhas e Gatões) no cinema certamente nos trouxe inúmeras obras marcantes, como Esqueceram de Mim (1990) - que ele roteirizou - ou Clube dos Cinco (1985) - que ele roteirizou e dirigiu. No entanto, nenhum se equipara ao que Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller's Day Off) representou para a cultura pop.

Logo nos primeiros minutos temos uma síntese do cinema do diretor/roteirista, que inclui personagens debochados, despreocupados e que sabem como viver a vida. Sucesso tanto nas críticas, quanto nas bilheterias, desde então, o filme ganhou uma legião de fãs, ao ponto que é difícil encontrar alguém que não saiba o significado de "Save Ferris". Mas o que tornou a obra um verdadeiro clássico?

O longa tem início com os pais de Ferris (Matthew Broderick) checando a saúde do filho. Fingindo estar doente na cama, ele convence ambos que não pode ir ao colégio e, em seguida, inicia seu dia de folga. Com receio de não ter mais êxito em suas enganações, o rapaz quer fazer aquela folga das aulas valer a pena, e para isso, chama seu amigo Cameron (Alan Ruck) e sua namorada Sloane (Mia Sara) para se aventurarem por Chicago.

Foto: Paramount Pictures

Mas o primeiro aliado na jornada de Ferris é o público, que o compreende e trava com ele um diálogo franco, como se não houvesse barreiras entre espectador e protagonista. O elemento que garante esse elemento único é a quebra da quarta parede em determinados pontos da narrativa. Ferris olha para a câmera e oferece detalhes de informações que contribuem para o humor da obra. 

O cenário pensado por Hughes é todo fantástico, a começar pelo núcleo escolar, que se divide em pontos tão desiguais que surpreendem por viverem em paz. O professor de economia vivido por Ben Stein (O Máskara) apresenta um método de aula completamente monótono. Já na direção, habita o senhor Ed Rooney (Jeffrey Jones), que faz o sujeito adulto, recalcado e maníaco por organização que, movido pela inveja, antagoniza seriamente o herói da jornada. 

É curioso o modo como os adultos são retratados no filme. Os pais de Bueller são bastante crédulos, alienados em relação a quantidade de mentiras que o filho conta. Os pais de Sloane não são citados, mas são tão presentes no cotidiano escolar que ninguém da diretoria sabe identificar suas vozes. Já os de Cameron também não são apresentados, mas geram no rapaz um medo tão grande que brincar de suicídio parece uma ideia plausível.

Porém, o motivo do longa ter essa aura mágica está na dedicação de Matthew Broderick (Godzilla) ao papel, combinando ousadia com um jeito descompromissado. Outro fator interessante é como John Hughes consegue entregar uma história carismática e engraçada, mas que carregas tons de dramaticidade, justamente por nos afeiçoarmos aos personagens e nos importarmos com seus dilemas.

Há uma porção de momentos únicos, que ficaram marcados na lembrança de cinéfilos mundo a fora. Como esquecer da pose no museu, ou da apresentação do "Twist and Shout" no meio das ruas de Chicago? Um bom roteiro aliado a uma direção competente cumprem um papel essencial aqui, sabendo intercalar cada uma dessas icônicas sequências de maneira única.

Foto: Paramount Pictures

Curtindo a Vida Adoidado não tem intenção de entregar complexidade ou reviravoltas narrativas, e ainda bem que foi assim. Hughes nos entrega diversão exagerada, onde matar a aula se torna uma questão de vida ou morte para o protagonista, da mesma maneira que o diretor Rooney tem que pegar o aluno em flagrante a todo custo.

O charme está em não se levar a sério. Uma libertação física e moral, mas completamente atemporal em sua capacidade de animar e melhorar o dia do espectador que assiste, especialmente se estivermos passando por momentos difíceis como os que Cameron passa.

Excelente

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