CRÍTICA | Top Gun: Maverick

Direção: Joseph Kosinski
Roteiro: Ehren Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie
Elenco: Tom Cruise, Miles Teller, Jennifer Connelly, Jon Hamm, Glen Powell, Monica Barbaro, Monica Barbaro entre outros
Origem: EUA / China
Ano: 2022

Já é um fato que a nova moda hollywoodiana é reviver os clássicos que marcaram época, trazendo de volta a empolgação e a nostalgia de quem viu essas obras pela primeira vez. Embora seja uma prática que alguns podem considerar cansativa e repetitiva, Top Gun: Maverick chega para mostrar o contrário.

Top Gun: Ases Indomáveis (1986) deixou fãs por anos esperando o momento de rever Tom Cruise (Missão: Impossível - Efeito Fallout) como o piloto Pete "Maverick" Mitchell nas telas do cinema. Mais de 30 anos depois, a sequência chega no momento certo, seguindo uma linha nostálgica e também ousada, fazendo os anos de espera terem valido a pena.

Na trama, depois de décadas servindo a marinha como um dos maiores pilotos de caça, mesmo com sua reputação de rebelde, Maverick se recusa a subir de patente e deixar de fazer o que mais gosta: voar. Mas o passado ainda o assombra, e o faz voltar para a Top Gun onde ele precisará treinar um grupo de pilotos em formação para uma missão especial.

Entre os pilotos, ele encontra Bradley Bradshaw (Miles Teller), apelidado de “Rooster”, o filho de “Goose”, seu falecido amigo. Confrontando seus medos mais profundos, Maverick terá uma missão que exige sacrifícios extremos enquanto lida com fantasmas de seu passado.

Paramount Pictures

O trio de roteiristas formado por Christopher McQuarrie (Missão Impossível: Nação Secreta), Ehren Kruger (Dumbo) e Eric Singer (Trapaça) trabalhou uma narrativa simples, onde naturalmente há um complemento entre o presente e passado, ao invés de entregar apenas mais uma releitura cheia de fan service vazio. Aqui temos um trama que conversa com a realidade.

Obviamente que a narrativa apresenta elementos nostálgicos, traçando paralelos com a história do primeiro filme e tratando de temas como rebeldia, competitividade, amizade e romance. Seu início é quase exatamente idêntico ao original e há recriações de objetos, cenas e personagens, desde a jaqueta, a moto, a música, o bar, e também um interesse romântico do protagonista, citado no longa original, e que aqui conhecemos pela primeira vez. A nostalgia trabalhada num roteiro bem amarrado, com uma dramaturgia simples, mas divertida, e com conflitos humanos que causam impacto sentimental, especialmente na necessidade de redenção de Maverick em relação à morte de Goose.

E é justamente seu amadurecimento narrativo que torna Top Gun: Maverick superior ao filme anterior, tornando justificável o retorno de um personagem tão amado. A simplicidade e apelo emocional da trama abrem espaço para que outras características brilhantes do filme ganhem espaço, sendo a principal delas a cinematografia de Claudio Miranda (O Curioso Caso de Benjamin Button).

Grande parte da magnitude do longa é sentida na parte técnica, que entrega ao espectador uma autêntica experiência cinematográfica. Os avanços tecnológicos e a direção de Joseph Kosinski (Oblivion) trouxeram registros de cenas grandiosos, usando diversos movimentos de câmera e enquadramentos. As imagens das aeronaves são um evento a parte. Trazendo muita autenticidade, as cenas de voo foram filmadas em jatos F/A-18 reais da Marinha dos EUA, para os quais o elenco teve que ser treinado durante um processo difícil. Utilizando 6 câmeras de qualidade IMAX dentro das cabines para trazer todos os detalhes de pilotar uma aeronave, o diretor queria captar as reações dos atores dentro dos jatos, deixando as cenas de ação ainda mais intensas e também auxiliando na imersão do espectador.

É libertador assistir um filme tão sensorial como esse, numa indústria que usa e abusa cada vez mais do CGI. Além do espetáculo visual da fotografia e da excelente direção, também é necessário ressaltar a montagem dinâmica de Eddie Hamilton (Kingsman: O Círculo Dourado), que progride de forma ágil e dramática, intercalando as cenas da cabine e os meios externos, além também da sonoplastia e mixagem de som, trazendo até elementos mais simples como o som dos controles, e também os abalos sonoros dos rasantes dos jatos e do ronco dos motores.

Paramount Pictures

No que diz respeito ao elenco, Tom Cruise retorna ao papel de Pete Mitchell como se nunca o tivesse deixado, trazendo uma versão mais madura do personagem, que precisa lidar com seus traumas do passado e finalmente deixá-los ir, mas sem perder sua essência divertida e egocêntrica. Tanto Maverick quanto Cruise estão constantemente desafiando a todos, mesmo com sua idade já avançada. Saber que o ator recusa usar dublês e faz seus próprios voos é mais um aspecto impressionante da produção, que dobra o grau de realismo em relação ao filme anterior. É uma verdadeira celebração do personagem e do ator, que mesmo beirando os 60 anos, ousa cada vez mais.

Mas o novo elenco não fica para trás. Miles Teller (Whiplash) como Rooster é o clássico jovem que quer se provar e vive uma relação conturbada com a Maverick por causa da morte de seu pai. Como de costume, ele entrega uma atuação cheia de carisma e drama. Ele e Glen Powell (Castelo de Areia), que interpreta o Hangman, trazem uma versão atual da dinâmica competitiva de Maverick e Iceman no original.

Monica Barbaro (The Good Cop), a pilota Phoenix; e Jennifer Connelly (Alita: Anjo de Combate), como Penny Benjamin, trazem o poder feminino para a produção e mostram que são capazes de fazer tudo aquilo que um homem faz, inclusive ser uma ótima pilota, no caso da primeira.

Muito se falou do fato de que Kelly McGillis (A Testemunha), que vive o interesse romântico em Ases Indomáveis, não ter sido convidada para participar, ou mesmo mencionada no filme. Segundo a atriz, deve ter sido porque ela "estar gorda e aparentando a idade que tem", o que gera uma discussão relevante sobre o etarismo e o machismo de Hollywood. Entretanto, a personagem de Connelly, que foi mencionada num diálogo do primeiro filme como um antigo caso de Maverick, aqui finalmente aparece como gerente de um bar e mãe solteira. De toda forma, Jennifer parece muito mais jovem que seus 51 anos, o que provavelmente era o objetivo da produção.

Ainda assim, Top Gun: Maverick é uma excelente experiência cinematográfica. Grandioso e divertido, já um dos melhores filmes de 2022 até aqui. Com muito mérito para a parte técnica e o trabalho fenomenal de Tom Cruise e do cineasta Joseph Kosinski, que cria seu próprio espetáculo visual com combates aéreos de tirar o fôlego. Tudo isso somado a um roteiro que celebra o longa original, mas que também ousada através dos avanços tecnológicos. Uma experiência imersiva, que não deixa de ser uma carta de amor à aviação. Um belo exemplo do porque o cinema não pode deixar de existir.

Ótimo


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