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Bruno Botelho
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Direção: Leigh Whannell
Roteiro: Leigh Whannell
Elenco: Elisabeth Moss, Oliver Jackson-Cohen, Harriet Dyer, entre outros
Origem: EUA / Austrália / Canadá / Reino Unido
Ano: 2020
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O Homem Invisível (The Invisible Man), de H.G. Wells, é um clássico da ficção científica, publicado originalmente em capítulos na revista semanal de Pearson, em 1897, e lançado como um romance no mesmo ano. Em 1933, foi adaptado para o cinema pelas mãos do cineasta James Whale (Frankenstein), também se tornando um clássico.
Nos últimos anos a Universal Pictures planejou criar o Universo Cinematográfico dos Monstros - mais conhecido como Dark Universe - que interligaria filmes como O Médico e o Monstro, O Monstro Frankenstein, A Múmia e, claro, O Homem Invisível, que originalmente teria como protagonista Johnny Depp (Animais Fantásticos e os Crimes de Grindelwald). Porém, a ideia foi abandonada após o fracasso do primeiro lançamento, A Múmia (2017), estrelado por Tom Cruise (Missão: Impossível - Efeito Fallout).
O lado positivo de toda essa história é que, com o fracasso dos planos iniciais, o diretor Leigh Whannell (Sobrenatural: A Última Chave) ganhou carta branca para fazer sua própria versão da história de Wells.
O lado positivo de toda essa história é que, com o fracasso dos planos iniciais, o diretor Leigh Whannell (Sobrenatural: A Última Chave) ganhou carta branca para fazer sua própria versão da história de Wells.
Na trama, Cecilia Kass (Elisabeth Moss) está presa em um relacionamento abusivo com o cientista rico e brilhante Adrian Griffin (Oliver Jackson-Cohen). Ela escapa na calada da noite e desaparece, ficando escondida com a ajuda de sua irmã, Emily (Harriet Dyer), seu amigo James (Aldis Hodge) e sua filha adolescente, Sydney (Storm Reid). No entanto, quando Griffin comete suicídio e deixa uma fortuna de herança, Cecilia suspeita que sua morte foi uma farsa. Com uma série de acontecimentos sinistros que testam a sua sanidade, ela tenta provar que está sendo caçada por alguém que ninguém pode ver.
Foto: Universal Pictures |
A versão clássica e essa nova adaptação apresentam diferenças na trama, principalmente na questão temática. O original tinha Adrian Griffin como foco, se tornando gradualmente psicótico depois de ingerir um composto químico que o tornava invisível. Já na nova versão, Whannell, enquanto diretor e roteirista, resolve abordar um tema contemporâneo, complexo e real: os relacionamentos abusivos.
Como a proposta gira em torno de uma mulher vítima de abuso, Whannell pediu à Elisabeth Moss (Mad Men) para revisar e alterar o roteiro no que fosse preciso, para garantir que a perspectiva da mulher e o ponto de vista feminino fosse respeitado. Tal escolha é louvável, já que o resultado é completamente perceptível na obra, que mesmo sendo escrita e dirigida por um homem, apresenta uma perspectiva feminina fortíssima e com um estudo importante sobre o tema.
Mirando em suspenses "hitchcockianos", O Homem Invisível acerta no tom. A criação da tensão – principalmente na primeira parte – é enervante e sufocante, lembrando a atmosfera minuciosa de Um Lugar Silencioso (2018), onde qualquer barulho pode significar um desastre total. Aplausos aqui para a edição e mixagem de som, que exercem a função com maestria. Na segunda parte, o longa envereda mais para a ação e ficção científica (foco da história original), mas sem deixar de construir uma atmosfera tensa. Então, todo o desenrolar da trama acaba tendo um peso importante e não são apenas cenas bem feitas ou banais.
O fato é que o filme não existiria sem Elisabeth Moss. A atriz está acostumada a trabalhar com personagens desafiadoras e que precisam enfrentar a sociedade patriarcal e a opressão masculina, já que vive June Osborne na série The Handmaid's Tale. Aqui, o psicológico e a sanidade dela são testados a todo instante. O gaslighting – abuso psicológico no qual informações são distorcidas, omitidas ou inventadas para favorecer o abusador, com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade – é amplamente abordado e discutido. Ela escancara tudo isso em expressões faciais aterrorizantes e preocupantes. É interessante ver a evolução de uma mulher forte, que foi forçada a acreditar em sua fraqueza e colocar em cheque sua sanidade, se recompondo.
Foto: Universal Pictures |
Oliver Jackson-Cohen (A Maldição da Residência Hill) é ameaçador como Adrian Griffin, principalmente quando está invisível, já que faz um jogo psicológico assustador, além de mostrar uma fisicalidade imponente e opressora. Sem estar invisível, ainda que seja por pouco tempo, ele mostra o perigo e o controle abusivo em nuances, com seus olhares e gestos, assim como acontece em relacionamentos tóxicos reais.
Leigh Whannell tem controle total de sua obra. Como a abordagem é feita a partir da perspectiva de Cecilia, o público acaba transportado para a mente aterrorizada da protagonista e o medo dela acaba refletido, tudo isso torna a experiência muito mais assustadora e atmosférica. Assim, em nenhum momento somos levados a questionar Cecilia, o que é uma inversão fundamental para o gaslighting. O diretor adora brincar com a paranoia, fazendo o espectador nunca ter certeza absoluta de quando Adrian está na sala.
Assim como o diretor buscou ajuda de Elisabeth Moss para dar sua perspectiva feminina no roteiro, achei pertinente também buscar uma opinião feminina sobre o filme. Sendo assim, conversei com a Camila Cetrone - também colaboradora do Cinéfilo em Série - e que já foi vítima de relacionamento abusivo. Segundo ela, as experiências apresentadas foram muito críveis, já que a crueldade da violência doméstica é velada (como a metáfora do homem invisível) e o julgamento/descrença das pessoas, assim como é mostrado, também é um sentimento que se assemelha muito com a realidade. Dito isso, é importante deixar o alerta de que a obra apresenta possíveis gatilhos para quem passa por situação semelhante, conforme explica Camila:
“É um estado emocional muito fragilizado e se ver naquela situação, daquele jeito, pode amedrontar.”
Por fim, O Homem Invisível se mostra uma bem-vinda revisão de um clássico sob uma perspectiva feminina, escancarando e discutindo sobre relacionamentos abusivos, além de redefinir de forma inteligente o gaslighting. Tudo isso, com uma atmosfera de tensão psicológica aterradora, onde a paranoia cresce a cada instante.
Bruno Botelho
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