CRÍTICA | Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan e Jonathan Nolan
Elenco: Christian Bale, Tom Hardy, Anne Hathaway, Gary Oldman, Joseph Gordon-Levitt, Marion Cotillard, Michael Caine, entre outros
Origem: EUA / Reino Unido
Ano: 2012


Com mais de 80 anos de existência, o Batman continua sendo um ícone cultural. O herói já passou diversas fases, com historinhas leves no início ao lado de seu eterno sidekick Robin, passou pela série de TV dos anos 1960, até chegar aos anos 1980 onde, subitamente, toda a atmosfera de seu universo sofre uma mudança absoluta. O personagem passa a ser retratado de forma mais sombria e violenta em um mundo pessimista e sem-esperanças, com vilões mais cruéis e ameaçadores pondo em risco toda a Gotham City, atingindo diretamente o espírito do herói ao colocar as pessoas mais queridas para ele em perigo. 

A trajetória cinematográfica do Batman começou bem graças aos esforços góticos de Tim Burton (Os Fantasmas Se Divertem), com seu Batman (1989), e de lá para cá diversas adaptações vieram. Nos anos 2000, no entanto, a Warner Bros apostou em uma reformulação da franquia ao colocar Christopher Nolan (A Origem) na direção, que com seu Batman Begins (2005) devolveu o status que o herói merecia junto ao grande público.

O sucesso absoluto viria mesmo com Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) e o Coringa de Heath Ledger (10 Coisas Que Eu Odeio em Você), que provavelmente retornaria no encerramento da franquia, não fosse sua morte trágica. E, justamente, após quatro anos de hiato, Nolan retornou para encerrar sua trilogia com Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises).

São tempos de paz em Gotham. A máfia está encarcerada e os lunáticos foram aprisionados junto com os demais criminosos. O Batman não é mais necessário há oito anos, ainda carregando a culpa da morte de Harvey Dent. Bruce Wayne (Christian Bale) aposentou o manto e agora vive deprimido, com muitas dores graças as suas antigas aventuras. Mas Bruce começa a ter seu mundo virado de cabeça para baixo a partir do momento em que o comissário James Gordon (Gary Oldman) é gravemente ferido por uma ameaça nunca antes confrontada pelo herói.

Foto: Warner Bros Pictures

É então que Bane (Tom Hardy) entre em cena e Bruce percebe que chegou a hora do Batman voltar, mas não leva em conta que a ameaça que esse vilão traz consigo será seu maior desafio. Com a ajuda do esquentado detetive John Blake (Joseph Gordon-Levitt), o herói luta com todas as suas forças físicas e mentais para impedir que o caos atinja Gotham mais uma vez.

Novamente, Nolan demonstra a mesma preocupação com seus personagens e a construção dos mesmos, o que é algo extremamente benéfico, especialmente para os novos rostos, como Blake, a vigarista Selina Kyle (Anne Hathaway) e a filantropa Miranda Tate (Marion Cotillard). Entretanto, o diretor/roteirista se deixa misteriosamente levar pelos excessos, criando uma obra extensa em demasia, fazendo deste o filme mais “mastigadinho” da trilogia, com direito a explanação detalhada dos planos dos vilões. Mesmo assim, essas questões não diminuem a força da obra.

Em termos de antagonista, Bane não fica muito para trás em comparação ao Coringa, embora seja impossível superar uma atuação tão icônica como a de Ledger. Tom Hardy (Dunkirk) está excelente como o vilão, com uma interpretação totalmente baseada na expressão corporal. Perceba o psicológico conturbado do vilão, definido com simplicidade. Com algumas frases, o roteiro define uma dimensão dramática única para Bane, enquanto a atuação de Hardy proporciona um ar ameaçador e calmo ao mesmo tempo, pois o personagem não é o tipo de antagonista que perde a cabeça facilmente, adotando um tom mair orgulhoso e narcisista. E por mais que muitos tenham criticado a voz do personagem, é justamente na fala que o ator expressa a dor física agonizante que sente, mesmo usando a máscara anestésica.

Bruce Wayne, por sua vez, volta a receber a devida atenção do roteiro que aprofunda o personagem em sua melancolia e conflitos internos, dando mais destaque ao homem do que ao morcego. O Wayne de Nolan é maravilhosamente humano, um sujeito que faz uso da raiva como mote para buscar a justiça, mesmo que isto o obrigue a tomar decisões que afetarão continuamente sua vida. 

Seu espírito retorna quando encarna o vigilante noturno mais uma vez, entretanto, suas atitudes estão diferentes. Batman está mais visceral e violento neste filme. Menos cauteloso, logo mais vulnerável, deixando uma dualidade interessante para a interpretação do espectador. E Christian Bale (O Grande Truque) novamente entrega a composição ideal ao personagem, nos convencendo como o galã excêntrico e bilionário, mas também como o homem por trás da máscara e sedento por justiça.

Foto: Warner Bros Pictures

Completando o elenco temos Joseph Gordon Levitt (Lincoln), seguro como o policial Blake, traçando um paralelo interessante com Wayne, apesar de clichê. Já Anne Hathaway (Interestelar) encarna uma Selina Kyle repleta de dubiedade e sensualidade, adequando a personagem a atmosfera verossímil da trilogia. Apesar de nunca ser mencionada como Mulher-Gato, sua essência está lá: inteligente, furtiva, silenciosa e fatal.

Contando ainda com a retumbante trilha sonora de Hans Zimmer (Blade Runner 2049), o longa concretiza um período sombrio e realista das adaptações de quadrinhos da DC Comics. Pode-se dizer que Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge é um encerramento absolutamente feliz para a trilogia de Nolan, uma vez que sua grandiosidade, especialmente em termos visuais, é mantida. O que fica desde então é a sensação de que os filmes de heróis jamais seriam os mesmos. E de fato não foram.

Bom

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