CRÍTICA | Panter Negra: Wakanda Para Sempre

Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler e Joe Robert Cole
Elenco: Letitia Wright, Lupita Nyong'o, Angela Bassett, Danai Gurira, Winston Duke, Tenoch Huerta, Dominique Thorne, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2022

Pantera Negra (2018) garantiu o seu lugar na história da cultura pop e mostrou que grandes produções majoritariamente pretas podem sim ser sucessos de bilheteria, aclamadas pelo público e indicadas às premiações, nesse caso inclusive, levando 4 Oscars e sendo indicado na categoria de Melhor Filme. Se o parâmetro já era altíssimo para a aguardada sequência, a infeliz partida de Chadwick Boseman (Destacamento Blood), as declarações anti-vacina de Letitia Wright (Black Mirror) e a paralisação da produção, foram obstáculos que dificultaram muito a execução de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (Black Panther: Wakanda Forever).

Com esse desafio em mãos, ninguém imaginaria que Ryan Coogler (Creed) entregaria o candidato a melhor filme da Fase 4 do MCU, transformando todos os seus obstáculos em elementos importantes da da trama. Somado aos desafios, o diretor e roteirista ainda precisava apresentar uma nova civilização e um novo vilão (ou anti-herói?) de imensa importância para os quadrinhos. Felizmente a tarefa esteve à altura de seu talento, fazendo com que Wakanda Para Sempre atinja um novo patamar, trazendo ainda mais grandiosidade e emoção aos seus personagens, ainda que falhe em alguns aspectos, como na montagem pouco inspirada e fora de ritmo.

O longa começa com um aceno à realidade, com T’Challa morrendo subitamente de uma misteriosa doença e o emocionante velório do rei e protetor de Wakanda. Sempre dialogando com o público, a obra lida com o luto da morte precoce do protagonista (e consequentemente de Chadwick) de maneira muito íntima e profunda. Wakanda Para Sempre é envolto desse sentimento e traz luz às diferentes formas de luto que cada um de nós passa. O ponto principal aqui é sobre a importância de sentir.

Marvel Studios

Não à toa o roteiro tem como arco dramático principal o de Shuri (Letitia Wright) lidando com o luto da morte do irmão. A sensação de impotência define toda a sua trajetória e eleva a personagem. Apesar de todas as polêmicas, Letitia entrega uma atuação comovente e ao mesmo tempo imponente. Ela assume a missão de ser a nova protagonista da franquia de um jeito surpreendentemente positivo. Inclusive, vale ressaltar que o protagonismo e a parceria das mulheres negras, bem como a força dessas personagens femininas, engrandece lindamente a trama.

Após os eventos de Vingadores: Ultimato (2019) e um ano após a morte repentina do Rei T’Challa, Wakanda ainda tem que encontrar forças para lidar com a ameaça imperialista dos EUA e dos países europeus que veem o vibranium como a solução para os problemas do mundo após a invasão de Thanos. E como se isso não fosse o suficiente, uma ameaça surge à nação wakandana através de Namor (Tenoch Huerta), o rei do império subaquático secreto de Talocan, que busca a ajuda do país para impedir a invasão de seu próprio terreno, escondido há centenas de anos.

A possível invasão se dá quando a jovem cientista Riri Williams (Dominique Thorne) desenvolve um detector do metal mais poderoso do mundo e faz com que o minério seja descoberto no fundo do mar, despertando o interesse das poderosas e gananciosas nações. Quando Namor então demanda à rainha Ramonda (Angela Bassett) que ela repare as consequências da exposição de Wakanda e do vibranium ao mundo, a discórdia por uma solução faz surgir o perigo de uma guerra entre Wakanda e Talocan.

E é aqui que a direção paciente de Coogler ganha vida. Afinal, como um filme sobre luto pode também ser um filme de ação? O cineasta junta ambas as propostas em um único tom narrativo e conecta tudo de maneira concisa, trazendo ainda o elemento político e social que tornou o primeiro Pantera Negra tão especial.

Além da introdução de um belo reino subaquático, a produção mantém o tom crítico a respeito de temáticas relacionadas às minorias raciais. Todo o enredo diz muito sobre a colonização espanhola, a opressão de povos originários e as lutas de resistência. Nesse sentido, os talocanos se assemelham bastante aos wakandanos, não só pela abundância de vibranium e pelo segredo de suas civilizações, mas também pela história de dor e força que os une. Toda essa proposta mostra o quanto a franquia é um ponto fora da curva dentro do MCU e porque ela é tão importante para o subgênero de filmes de heróis.

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Tenoch Huerta (Narcos: México) chega com muito carisma e liberdade para construir um antagonista diferente do habitual. Assim como Killmonger (Michael B. Jordan) no passado, Namor é definido por um amor inabalável por seu povo e uma vontade de fazer qualquer coisa para protegê-los. Huerta entrega um personagem sólido, de tom ameaçador e, ao mesmo tempo, charmoso na medida certa.

Ainda sobre às adições de elenco, Dominique Thorne (Se a Rua Beale Falasse), nossa Coração de Ferro, serve de alívio cômico pontual, assumindo o seu posto como “herdeira” de Tony Stark, mas com uma pitada de humor do Homem-Aranha de Tom Holland (Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa). É mais uma das personagens jovens que o MCU vem inserindo para garantir o seu futuro.

O ponto alto de Wakanda Para Sempre, no entanto, fica por conta do entrosamento da dupla Angela Bassett (Missão: Impossível - Efeito Fallout) e Letitia Wright. Aliás, a presença maior de Bassett é um presente. Não tem como não se comover com a jornada de luto de suas personagens, que encaram a situação de formas diferentes, com Ramonda assumindo sua posição de líder e Shuri reprimindo a dor da perda do irmão, culpando-se por não ter conseguido salva-lo.

As presenças de Danai Gurira (The Walking Dead) como a guerreira Okoye, Winston Duke (Nós) como o líder M’Baku e Lupita Nyong'o (12 Anos de Escravidão) como Nakia, eram mais do que necessárias para compreender totalmente como a dor que o povo de Wakanda sente.

E é aqui que a Marvel Studios acerta mais uma vez, pois Pantera Negra: Wakanda Para Sempre não se trata apenas de uma sequência. É uma celebração da cultura africana, onde sofremos juntos do povo de Wakanda a dor da perda de seu rei. Se no primeiro filme entendemos mais sobre representatividade e opressão, agora experimentamos a dor da perda, um tema universal.

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Aliando técnica - com a trilha sonora potente de Ludwig Göransson (Tenet) e os figurinos impecáveis de Ruth Carter (Malcolm X) - ao fator sentimental, Ryan Coogler entrega um filme que encerra a Fase 4 do MCU da melhor forma possível. Com o olhar para a frente e com uma equipe de trabalho quase toda preta, Wakanda Para Sempre honra a memória de Chadwick Boseman e emociona o espectador. Num filme sobre saudade e olhar para o passado, o que fica de lição é um legado que se estende para além do gênero e que, com certeza, ficará marcado.

Ótimo


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