CRÍTICA | Eternos

Direção: Chloé Zhao
Roteiro: Chloé Zhao, Patrick Burleigh e Ryan Firpo
Elenco: Gemma Chan, Richard Madden, Angelina Jolie, Salma Hayek, Kumail Nanjiani, Kit Harington, Don Lee, Lia McHugh, Brian Tyree Henry, Lauren Ridloff, Barry Keoghan, entre outros
Origem: EUA / Reino Unido
Ano: 2021

Desde Homem de Ferro (2008) e o início do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) tivemos uma série de filmes de origem de super-heróis, que resultaram na famigerada “fórmula Marvel”, já que todos possuem estrutura similar, repetindo-se ao longo das franquias, sempre com lucros milionários.

Com o passar do tempo a Marvel Sudios percebeu que essa fórmula não era mais suficiente para atrair o público e, graças a vontade de expandir seu universo, começou a investir em produções diferenciadas e muito interessantes, como a minissérie WandaVision (2021), por exemplo, explorando novos territórios com potencial para atingir outro patamar cinematográfico, com um viés mais artístico, sem perder a essência dos super-heróis.

Dentro desse contexto, Eternos (Eternals) é a produção que mais se afasta de tudo que o estúdio produziu até aqui. Trata-se de um dos projetos mais ambiciosos, complexos e autorais que a Marvel Studios já realizou.

Assim como aconteceu em Guardiões da Galáxia (2014), o longa introduz novos e desconhecidos personagens para o público geral, no entanto, ousa ir além, estabelecendo novos conceitos que certamente serão explorados no futuro do MCU, especialmente aqueles que envolvem o lado místico desse universo e a ambição de recontar a história da humanidade. Uma tarefa que Chloé Zhao (Nomadland), diretora vencedora do Oscar, cumpre com maestria.

Zhao não apenas expande um universo tão bem estabelecido como traz identidade única para sua obra. Inspirada nos quadrinhos de Jack Kirby - que criou os Eternos em 1976 -, mas adaptando o roteiro da maneira mais cinematográfica possível. O texto da própria cineasta em parceria com Patrick Burleigh (Pedro Coelho 2: O Fugitivo) e Ryan Firpo (Ten Years) mostra que é possível ser sensível, engraçado e manter uma dose de ação no cinema blockbuster, imprimindo um lado mais artístico ao MCU.

Marvel Studios

Eternos aposta em uma narrativa não-linear para apresentar e desenvolver a história de dez personagens que compõem o grupo: Ajak (Salma Hayek), Ikaris (Richard Madden), Sersi (Gemma Chan), Duende (Lia McHugh), Thena (Angelina Jolie), Kingo (Kumail Nanjuani), Phastos (Bryan Tyree Henry), Druig (Barry Keoghan), Makkari (Lauren Ridloff) e Gilgamesh (Ma Dong-seok).

Muito antes de Os Vingadores (2012), há 7 mil anos, os Eternos foram enviados em direção à Terra. O grupo foi criado pelos primeiros seres que habitaram o cosmos, os Celestiais, com o objetivo de proteger o planeta dos Deviantes. Depois que tais criaturas voltam a se reunir na Terra, os Eternos precisam se aliar novamente para combatê-los. Entretanto, cada integrante seguiu sua vida como um indivíduo “comum”, sendo necessário recrutar um por um, para que, juntos, possam mais uma vez salvar a humanidade.

Uma trama que se passa com avanços e voltas gigantescas no tempo faz com que os personagens participem de eventos importantes da história da humanidade, mas sem interferir em seu andamento. E é aí que mora o conflito de ideais entre os membros da equipe, já que alguns querem interferir por empatia e outros somente buscam seguir as ordens do celestial Arishem (David Kaye), responsável por criá-los.

O longa soma ao universo Marvel com uma história mais filosófica sobre conflitos de interesses e fé naquilo que se acredita, mesmo que certas partes de um propósito sejam omitidas. Servindo como uma comparação para o crescimento daqueles que acompanharam esse universo desde o princípio, Eternos apresenta um amadurecimento necessário para o estúdio, que agora está pronto para testemunhar temas mais complexos, inclusive retratando a primeira relação sexual entre personagens, a primeira heroína surda e o primeiro herói gay do MCU.

É evidente que a produção carrega elementos básicos dos filmes de super-heróis, algo necessário para a comunicação com o público-alvo,  gerando cenas de encher os olhos como a batalhas aéreas de Ikaris ou Makkari, por exemplo. Eternos é riquíssimo visualmente, seja pelas cinematografia de Ben Davis (Doutor Estranho) ou pela escolha de filmar a maioria das cenas em locação, mas acaba sofrendo com o ritmo, pois mesmo que Zhao tivesse a ideia de contemplação dos temas mais filosóficos de forma mais séria, a calma para se contar a história talvez tenha sido um pouco exagerada, nos passando a sensação de que o filme começa mesmo do meio para o final.

Marvel Studios

Mesmo com soluções criativas para perguntas difíceis de serem respondidas (como o motivo dos Eternos não terem participação na batalha contra Thanos), Zhao parece ficar presa na própria grandeza da obra. O excesso de tramas paralelas e personagens faz com que o longa tenha muito a explicar, porém com pouco tempo para que todos possam brilhar, deixando alguns deles um pouco de lado.

Quem rouba a cena é Kumail Nanjiani (Doentes de Amor) como o poderoso-cósmico Kingo, que se tornou um astro do cinema de Bollywood. Sua história é a mais divertida, cheia de vida e carisma, e acaba por ser o grande alívio cômico do grupo, enquanto Don Lee (Invasão Zumbi), Gilgamesh, é o mais sensível e um dos mais fortes, apesar de pouco explorado.

Lia McHugh (O Chalé) também merece destaque como a jovem Duende, a personagem mais versátil que, por viver no corpo de uma criança, possui um grande dilema, alternando entre várias emoções e finalidades durante a trama. Já Brian Tyree Henry (Atlanta), como o inteligente inventor Phastos, tem o arco narrativo mais sentimental do filme.

O romance fica por conta do triângulo amoroso vivido por Kit Harrington (Game of Thrones), Richard Madden (Rocketman) e Gemma Chan (Podres de Ricos). Inclusive, é preciso destacar a importância da diversidade desse elenco, e a expectativa de vermos os filmes da Marvel cada vez mais diversos culturalmente.

Apesar do ritmo lento, Eternos é um filme evento. Vai dividir opiniões por ser extremamente bem-sucedido em algumas de suas propostas, ao passo que falha em outras. De toda forma, é uma experiência grandiosa e é, sem dúvidas, uma expansão absurda para o MCU, apresentando de forma bastante competente o lado cósmico do estúdio.

Ótimo


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