CRÍTICA | Rebecca: A Mulher Inesquecível

Direção: Ben Wheatley
Roteiro: Jane Goldman, Joe Shrapnel e Anna Waterhouse
Elenco: Lily James, Armie Hammer, Kristin Scott Thomas, Sam Riley, entre outros
Origem: Reino Unido
Ano: 2020


Após um romance platônico com o belo viúvo Maxim de Winter (Armie Hammer), uma jovem recém-casada (Lily James) chega a Manderley, a imponente mansão de seu novo marido em uma costa inglesa. Ingênua e inexperiente nos costumes da alta sociedade, ela tenta se habituar a sua nova vida, mas luta contra a sombra da primeira esposa de Maxim, Rebecca, cujo misterioso legado é mantido vivo pela sinistra governanta da residência, Sra. Danvers (Kristin Scott Thomas).

Rebecca: A Mulher Inesquecível (Rebecca), dirigido por Ben Wheatley (No Topo do Poder) é a segunda adaptação para longa-metragem do romance homônimo de Daphne du Maurier, publicado originalmente em 1938. Isso porque o icônico Alfred Hitchcock (A Sombra de uma Dúvida) já havia o feito em 1940, o que inevitavelmente traz uma sombra de respeito para o lançamento de 2020 distribuído pela Netflix.

Confesso, no entanto, que ainda não assisti a versão de Hitchcock, tampouco conhecia do que se tratava a história de Rebecca, pois nem mesmo o trailer havia assistido - algo que tenho tentado fazer com mais frequência com lançamentos fora do circuito de blockbusters, na esperança de ser surpreendido -, o que me propiciou uma experiência livre de qualquer amarra.

O roteiro escrito por Jane Goldman (Kingsman: O Círculo Dourado), Joe Shrapnel (Raça) e Anna Waterhouse (Seberg Contra Todos) é, de fato, surpreendente, já que estabelece o casal protagonista em um romance clássico em um primeiro momento, para logo em seguida subverter expectativas mergulhando o espectador em uma trama de mistério e suspense psicológico que justifica o interesse de Hitchcock no longa, décadas antes.

Kerry Brown/Netflix

O frustrante dessa nova adaptação é o fato de não trazer novidades na forma de se contar a história, já que Wheatley opta por uma direção clássica para um romance britânico clássico, sem se permitir "pirar" com as possibilidades que as reviravoltas de roteiro proporcionam. Em determinado momento confesso que me peguei imaginando o que esse filme poderia ser, tivesse alguém como Roman Polanski (O Inquilino) - apesar dos pesares - na direção, ele que é especialista em thrillers psicológicos que desafiam a percepção da audiência. Talvez trazendo a trama para tempos contemporâneos? Seria no mínimo interessante.

Em determinados aspectos técnicos o longa cumpre seu papel de encher os olhos, com um design de produção e figurinos que sabem tirar vantagem das belíssimas e pomposas locações britânicas. O mesmo pode-se dizer da calorosa cinematografia de Laurie Rose (Operação Overlord), que valoriza a riqueza imposta em tela através da cor dourada, sucumbindo às sombras a medida que a trama mergulha no suspense.

A desconjuntada trilha sonora de Clint Mansell (Com Amor, Van Gogh), por outro lado, me parece destoar do que é apresentado em tela a todo momento, trazendo uma sensação de estranheza involuntária e não proposital ao espectador.

Algo inegável é o carisma de Lily James (O Destino de uma Nação), sempre magnética em tela. Uma pena que a talentosa atriz tenha ficado presa a papéis tão similares em sua carreira. Espero no futuro ver mais da Lily da cena final de Rebecca (quem assistir irá entender). Algo semelhante ocorre com o próprio Armie Hammer (Me Chame Pelo Seu Nome), que parece sempre orbitar em personagens engomadinhos com uma tendência para o "babaquismo", e digo isso com pesar, pois entendo que é um ator em ascensão. Kristin Scott Thomas (Tomb Raider: A Origem), por sua vez, soa habitualmente correta, mas com tempo insuficiente de tela para poder se destacar.

Kerry Brown/Netflix

No fim, Rebecca: A Mulher Inesquecível soa como um longa "dentro da caixinha", uma produção cheia de potencial e viradas de roteiro que possibilitariam algo de maior relevância ao espectador, mas que limita-se a fazer mais do mesmo, apostando nos belos rostos de sua dupla protagonista. Se você for admirador de um ou de outro ainda vale a visita, mas não espere algo realmente marcante. Talvez a versão de Hitchcock soe mais interessante? Quem já assistiu poderá responder.

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